31/05/2010

Sede

Na sede de uma loucura
Lamber a sonora leitura
Jogo-me no chão
Contorço-me e me rasgo
Penso no amor
Como amar é bom
Viajo nas paredes do meu mar
Afogo-me em imagem que copio das décadas
Mancho a estrutura e a carne
Espelho o esquecido
Amanheço o contraste
Sou sonho perdido no mato
Revolução perdida no texto
Explico o pretexto do gesto
E simplifico o magnânimo popular
E magnífico o pensamento absurdo
De plantas negras
De óleos figurados
Ostento a prenuncia da satisfação
Glorifico a satisfação própria do seu,
Do nosso,
De qualquer um,
De ninguém
Na sede de uma loucura
Eu presumo o resumo do fragmento
Eu queimo a suposta máxima, mínima
Eu faço um “autidor” do miúdo Maximo, Maximo
Rabiscando uma turma
Re-movimentando um movimento
Desprendo os olhos da terra
Para circular amplitudes extremas
Para lamber as estrelas
E formar o amor.

(24-08-06)
diego marcell - poética em estética modertrÔ

30/05/2010

Nuvem

Ventila a carne dos quadris
Esqueci as nuvens sobre as pedras
Completei as espumas e as águas contaminadas com meu suor
Matei mosquitos e aranhas
E vomitei ladeira a baixo
Encharquei meus resíduos de impureza, com sal
Para aprender a viver normal
Ardem os pratos
E queimam os cantos
O pus e o sangue se escondem
Na fresta de uma incerteza
Brotam sonhos de sede
Correm rios de catarro
A fome é um prato nauseante de solidão
Respiração e movimento
Vertigem e esquecimento
Eu olho para o teto
E esqueço que deixei as nuvens vazando pelas frestas de
[pedras
Ou eram pelas canecas das celas?
Eram só nuvens evaporando no meu par de amídalas
Par de meias
Par de orelhas
Par de olheiras
Par de quadros ímpares
Par de narinas líquidas
Par de desintoxicados orifícios.


(26-08-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

28/05/2010

Cólica

O sono pendura a brisa no meu queixo
Repouso a cólica
E apago o peito conseqüente
Nos colchetes de ar, aliviando com musica
A dor
Nos colchetes de ar e musica
Aliviados com dor
A dor
Eu viro um balão
Babando no canto
Babando e arrotando
Toda biologia dos meus livros do ensino médio.

diego marcell - poética em estética modertrô
(28-08-06)

27/05/2010

Cartaz

Meu tênis de areia e sal
Faz mensagem no cartaz
Que conta o exercício do mar
Faz choque, raio
Orla e onda
Sem barco ou navio
No Maximo uma embarcaçãozinha
No cartaz
Meu esporte
Todas as peças de roupa
Incluindo conchas e bichos
Incluindo a cabeça
Nessa mensagem é a mensagem
Ela própria se inclui
No cartaz.

(07-09-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

Febre, nuvem e bolor

Febre nuvem
Mormaço de futebol
Óleo na fechadura, sebo chocolate
Suor de amendoim salgado
Bolor que desce, equação macia
Sono e tevê
Água das narinas
Sangue das narinas
Palavras das narinas
Saudade da rua XV em Curitiba
Saudade do mar
Da minha saudade bonita
Charme e cheiro que chega chegando
Lembrando o que virá
Para esquecer o que não sei mais
Porque a onda cobre o que não é filme
Só musicas podem ser ilhas no mar
Cheiro é areia que a temporada cobriu
Saudade do que virá
E do que eu já nem sei mais.

(12-09-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

25/05/2010

Insatisfação

Eu prefiro o monólogo
É unilateralmente enfático
No bale dos meus pés
Saciar uma encomenda
Buscar no estático
A réplica do silêncio
Fácil engano sem correção
No bale da dialética
Pede aos gestos, força
E criatividade
O improviso vive no erro
E se premia com acertos de erros
O improviso nasce do treino
Como no bale do sentimento

Sobram horas
De manhã...
De noite...
Faltam de tarde
Quando tudo abre e tudo fecha
Ao mesmo tempo

diego marcell - poética em estética modertrô
(26-01-06)

24/05/2010

Trem sem estação

O trem passou pelas cobertas de lama
E a grama na boca
Espalha-se no vento
No impulso febril
De carne vermelha
De músculo na panela de pressão
África jovem
Passa o trem e te visito
A cada apito em cidade feia
A cada avião um oceano nevoeiro
Cada sentimento minha lágrima chora sozinha
No canto do teu gesto
Maltrata-me
Você não se entende
E me contraria tentando acertar
Piora ao achar soluções
É veneno, não esterco
O trem ainda passa

(10-11-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

23/05/2010

Floresta de luzes frias

Os pássaros cantam
Amanheceu
Nessa floresta escura
Eu ando nos corredores azuis
E sinto o gelo das paredes
Os livros nas janelas
Uns acordam
Outros vão dormir
Em plena orquestra
Prefiro apagar a luz
E ver a luz aparecer
Mesmo sendo ruim de escrever
Os computadores na floresta piscam
Coadjuvantes querendo atenção
O samba é só lembrança
Romantismo pra amanhã

(11-11-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

22/05/2010

No abismo das películas antigas (sobre Moreira da Silva, Ivan Cardoso e Rogério Sganzela)

Querendo dormir
Mas com saudade se ir
Ainda vai querer ficar
No abismo do mar
Engolido na madrugada
Cantando e tocando bateria
Seus ternos brancos
Seus delitos textuais
Poesias suadas
Respingam pedras e espumas
Não há nada para ver
E o barulho sempre igual
E forte
E cansativo
Com ou sem bateria
Com ou sem cantoria
Pois estes são apenas detalhes aqui

(17-11-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

20/05/2010

Resumo

Eu só tenho camisetas verdes
E quadros psicodélicos
Pensamentos abstratos
Gestos surreais
Tenho cores nas musicas
E glamour na breguice
Talvez pra ser tão igual
Quando eu descobrir
Que sendo diferente
Não será igual na dança das peças
Dos jogos de cabeça
Eu sou melancólico, super alegre
Eu sou colorido, super quieto!

(22-11-06)
diego marcell - poética em estética modertrô

18/05/2010

Vai...

Batom no telefone
E uma sede que arrebenta horas
Horas gastas com medo
Amor bandido
Crime no ouvido
Sussurro na geladeira, é madrugada
Luz que vem do corredor
São seus passos na garagem
Com sapatos altos
Seu vestido é um assalto
Se eu fico de lado
Você me pinta
Com seu blush
Com sua tinta
Estou tonto
Preciso dormir, mas você não deixa
Você quer carinho
Quer vinagre
Você quer saliva no seu cabelo solto
E eu só quero dormir, mais um pouco.


diego marcell - poética em estética ModertrÔ
(07-12-06)
publicado em 2009 no livro Pequena História da Academia Parano-Catarinense de Letras
de Fídias Teles.

para adquirir o seu
envie um email para complexoarte@hotmail.com

17/05/2010

O livro dela (sonho)

Desliga
E vai raiar um livro
Transparente, mas depressivo
Eu sou muito velha
Pra entender a realidade
Quero ver se eu
Consigo esquecer
O meu aborrecer
As piadas eu desenhava
Com cada cor
Que combinava

diego marcell - poética em estética Modertrô

(07-12-06)

16/05/2010

Coisas do litoral

A lua quando banha o mar
Nos aproxima de lugares
Cobertos pelo manto salgado
E finge pontas de miragens
De paraísos esquecidos
E outros tantos impossíveis
Miragens submersas
Criaturas voadoras
Coloridas
Corais e formas
De enfeitar essa vida
Esse alimento bíblico
Tão rico
E tão escondido
Por uma toalha de noite
Que deleite tranqüilizante
É ler da areia
Todos os quadros do horizonte
Que se encurta
Pela luz suprema da lua
E os resíduos de navios
E avenidas beira-mar


diego marcell
(03-01-07)
"poética em estética Modertrô"

Voltamos ao mundo real com seus foguetes que nublem o céu

No vento
Quem galopa
Entre folhas
Vem de um
Caos medieval
Arcaico e digital
Nadando em mosaico
Cabelo solto no escuro
Brilha longe
Sem assunto
Sem peso
Apenas foge das cidades
Entre as cidades
Entre janelas entreabertas
Entre arvores semicalvas
Fogem ou apenas se libertam
Das contas, das obrigações...
Dessa sociedade
Presa em pixels perfeitos
Cidades projetadas

(03-01-07)
Diego Marcell