13/05/2011

O suor que derreteu o soneto

I
Na quebra da cozinha fria
Reparte barras amargas e secas
Das luzes de um soneto que perdi
Tentando inviabilizar
Tropeço em meus versos
Que derretem com minha memória
Nesse suor que evapora idéias fixas,
Agora manchas no azulejo.

II
Quem ronca,
Quem ergue o dedo
Como se naquele momento fosse o sábio
O sonho
O perdão
E até a paz, mesmo que lá dentro houvesse o pesadelo
Mas esse... já não há
Pois derrete, exala moscas azuis e verdes
Nas florestas do Balneário
Dos esgotos que me banhavam pelos idos de 1992
Agora sigo apanhando de pernilongos mais calmos
E ventiladores estragados
Sigo na pele cremosa da namorada
Que repelindo o sol, automaticamente repele meus dentes
E minha língua
Essa que a pouco se enchia
De água para escrever
Mas evaporou no suor das lâminas
E agora se enche de água
Para lamber
Outras lâminas salgadas
Mares entre florestas que agora
Me guardam
Quase 15 anos depois

III
Agora é a vez do céu suar
Trazendo água para chuveiros
Para nucas suadas e sedentas
Vidraças suadas e sujas
Sarjetas úmidas e defecadas
Sarjetas que urinam nas calças
No meio-fio das calças
Arranha-céus travados, cagados
Que vomitam no mar
Que em 1992 me banhava
E hoje cobre os argentinos de
Vómito, urina e merda
Merda das nações
Caviar que virou merda
Que alimenta peixinhos
Que derrete as areias soltas
E formam uma lâmina de sujeira
Nessa areia
Agora esses arranha-céus paralíticos
Particulares
Milionários
Chiques
Famosos
Cagam nos argentinos
Nos franceses
Nos chilenos
Nos paraguaios
Nos camboriensses
Nos mafrenses, não!
Nos mafrenses, também!

Diego Marcell 05-01-07

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.